"Uma criança com fome não consegue pensar em política ou liberdade." A realidade dura da infância na Coreia do Norte
Subnutrição, exploração, domínio total do pensamento e até tortura. A cimeira entre Kim e Trump não deve abordar os direitos das crianças — mas na Coreia do Norte eles são violados todos os dias.
Cátia Bruno Observador, 27 fevereiro 2019
Foi Kim Jong-un que trouxe o tema para cima da mesa, em vésperas da cimeira com o homólogo norte-americano, Donald Trump. "Sou pai, sou marido e tenho filhos. Não quero que os meus filhos carreguem o peso das armas nucleares às costas toda a vida", terá dito o líder da Coreia do Norte ao secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, aquando da preparação desta cimeira.
A preocupação de Kim com os seus descendentes — e, por arrasto, com toda uma geração de norte-coreanos com um futuro pela frente — esbarra nas violações de direitos humanos a que as cerca de 5,5 milhões de crianças são sujeitas no país. A República Popular da Coreia do Norte (RPCN) enfrenta problemas de carência alimentar e de saúde nos mais novos, cercea a liberdade de acesso à informação desde cedo e recorre a crianças para conseguir mão-de-obra gratuita. Há ainda a limitação de direitos políticos à nascença, agravada para aqueles que nascem numa classe social mais baixa. Alguns menores de idade são mesmo presos juntamente com a família por crimes cometidos pelos adultos. Há violência física para alguns e condicionamento psicológico para praticamente todos, como têm denunciado organizações como as Nações Unidas. A escola é um instrumento fulcral para o conseguir.
A informação sobre o "Reino Eremita" é pouca no geral e, no que diz respeito à situação das crianças norte-coreanas, a regra mantém-se. A vida das crianças fora de Pyongyang continua a ser mais misteriosa do que a das que vivem na capital e os constrangimentos que existem sempre no contacto com os locais agravam-se quando falamos de menores de idade. A somar-se a tudo isto está o uso das crianças como instrumento de coesão do próprio Estado norte-coreano, com as doses de propaganda, aplicadas desde tenra idade, a moldarem o pensamento e as ações desde cedo.