Olof Palme marcou a história da Suécia e do mundo. Na altura em que se assinalam os 30 anos da sua morte, o país é agitado pela crise dos refugiados e a social-democracia de Palme está cada vez mais em risco
Cátia Bruno, em Estocolmo Revista E (Expresso), 5 março 2016
O cabelo é preto, os olhos escuros, emoldurados por umas pestanas longas. Baixinho e de bochechas pronunciadas, é apenas uma das várias crianças desta escola cuja cor da pele não deixa dúvidas sobre as suas raízes no Médio Oriente. Os alunos trazem roupas pouco cuidadas, os mesmos crocs cinzentos e desgastados, mas também as mesmas gargalhadas que ecoam pelos corredores amarelos e vermelhos. Há coisas que são iguais em todas as escolas: o grupinho de miúdos mais velhos que se esconde atrás do barracão para acender um cigarro, as crianças que correm desenfreadas para o recreio sem vestir o casaco (apesar da neve espalhada pelo pátio), os miúdos mais tímidos que se deixam ficar sentados nos corredores, de headphones nos ouvidos. A diferença é que o cenário aqui está longe do mar de cabeças loiras que normalmente se encontra em qualquer outra escola na Suécia. Isto porque estamos em Ronna, um subúrbio da cidade de Södertälje, onde mais de 80% da população é de origem estrangeira, a maioria vinda do Iraque, Síria e Turquia.
O miúdo das pestanas longas é apenas mais uma das várias crianças desta escola onde estudam 750 alunos, dos seis aos 16 anos. À hora de almoço, alterna entre a conversa entusiasmada com dois colegas e as garfadas do gratinado de batata que tem à frente.
É, aparentemente, um rapaz normal, mas é também um dos alunos que Henrik Ljungqvist garante que se lembrará durante muitos anos. "No ano passado dei-lhe boleia. Ele é um miúdo feliz, está sempre a rir-se e a contar piadas, mas no carro contou-me a sua história. Contou-me que veio para cá num barco, que viu pessoas a serem mortas no Iraque. E aquela história não bate certo com aquela cara feliz." Ljungqvist é diretor da escola de Ronna há apenas ano e meio, mas já aplicou uma série de medidas que quer tornar tradição. Todas as aulas têm agora dois professores, para que estes se sintam mais apoiados e mais capazes de comunicar com crianças de passados e presentes complicados. Os trabalhos de casa devem ser reduzidos e feitos sempre que possível na escola, para ajudar os muitos alunos que vivem em apartamentos apertados, sem secretária nem cadeira, partilhando a cama com três familiares. No futuro, há planos para mobilar a sala de convívio da escola e criar atividades noturnas que envolvam o resto da comunidade.
Em Södertälje, que fica a cerca de 40 km de Estocolmo, um terço dos 90 mil habitantes é de origem estrangeira. A maioria são cristãos assírios do Médio Oriente que vivem neste subúrbio de Ronna, não saindo nem para ir ao centro da cidade. Como resultado, poucos aprendem a falar sueco, o que ajuda a explicar a taxa de desemprego acima dos 30%. Daí ao envolvimento na criminalidade organizada vai um passo - desde 2009 que a polícia tem feito várias detenções de membros de um grupo criminoso chamado "Irmandade Síria" e um relatório policial recente colocou o bairro como um dos três mais perigosos da Suécia.
"Temos de os proteger, e a única forma de o fazer é conseguir que eles confiem em nós como os bons adultos", diz o diretor. Passear pela escola com ele significa que se é parado a cada três segundos por um miúdo que corre para o abraçar, por uma rapariga que lhe quer mostrar os novos passos de dança que aprendeu e pelos gritos de "Henri! Henri!" dos que esperam um aperto de mão ou uma palmada amigável. Os desafios são muitos na escola de Ronna, que recebe dois a quatro novos estudantes por semana, fruto da atual crise de refugiados na Europa.
O impacto faz-se sentir a nível local, mas também a nível nacional. Na Suécia, ninguém fala de outra coisa desde que o primeiro-ministro Stefan Löfven anunciou que a política de asilo sueca seria apertada.
UMA FIGURA MARCANTE "A democracia está enraizada neste país. Respeitamos os direitos e as liberdades fundamentais. As teorias raciais nunca ganharam terreno aqui. Consideramo-nos de mente aberta e tolerantes, mas não é assim tão simples. O preconceito nem sempre está ancorado numa uma teoria odiosa." O excerto é de um discurso antirracismo de um político social-democrata sueco. Podia ter sido proferido nos últimos meses, mas na verdade foi escrito e lido em 1965, na mensagem de Natal do primeiro-ministro sueco à altura, OlofPalme. Por estes dias,Palme partilha com a crise dos refugiados as manchetes dos jornais. No passado domingo, a 28 de fevereiro, assinalaram-se os 30 anos da sua morte, quando o carismático primeiro-ministro foi morto a tiro, enquanto seguia para casa sem guarda-costas depois de uma sessão de cinema noturna.
Amado por uns, odiado por outros, Palme ficou para a história pelas suas posições arrojadas em termos de política internacional, nomeadamente na oposição aos EUA a propósito da guerra no Vietname e no combate ao regime do apartheid na África do Sul. Internamente, deixou como grande legado muitas leis relativas à igualdade de género e o alargamento do Estado social. Trinta anos depois, a política económica sueca moveu-se bastante mais para a direita (com a entrada dos privados em áreas como a Educação e a Saúde, por exemplo), mas a espinha dorsal do Estado social escandinavo mantém-se e nenhum partido ousa quebrá-la. A igualdade de género também continua por alcançar em pleno, como concluiu um inquérito governamental no ano passado. O estudo apontou para a falta de mulheres em lugares de liderança e para a diferença salarial entre os sexos, mas o país continua em quarto lugar no índice que mede a desigualdade entre homens e mulheres do Fórum Económico Mundial (apenas atrás da Islândia, Noruega e Finlândia).
Em muitas matérias, o legado de Palme persiste, mas a Suécia vive atualmente uma crise sem paralelo no que toca aos refugiados. A política de portas abertas que sempre manteve ao longo dos anos, acolhendo bósnios, somalis e iraquianos, está agora ameaçada. Com uma população de nove milhões e meio de pessoas, a Suécia é a nação europeia com mais refugiados per capita. Agora, o país diz que não consegue lidar com um fluxo de chegadas tão grande - só no último trimestre de 2015, mais de 80 mil pessoas pediram asilo. Por todo o país, este é o tema principal das conversas, como se pode ver por uma recente sondagem do jornal "Dagens Nyheter", onde se pode ler que 40% dos suecos escolheram o tópico "integração e imigração" como o mais importante em termos políticos. Como é que o político Palme lidaria com esta situação sem precedentes? É a essa pergunta que Henrik Berggren, biógrafo do social-democrata, tem tentado responder. "Por um lado, ele estava muito envolvido com as questões dos refugiados. A mãe era uma refugiada de origem alemã vinda da Rússia. Ele teve um casamento de conveniência com uma mulher checa para a ajudar a sair da Checoslováquia, pois ela estava a ser perseguida pelas autoridades comunistas. E, antes de morrer, OlofPalme estava profundamente interessado na posição de alto-comissário para os Refugiados da ONU", resume ao Expresso o autor da biografia de Palme "Underbara dagar framför oss" ("Dias maravilhosos pela frente", sem tradução em português). Já para não falar que a própria viúva, Lisbet Palme, admitiu numa entrevista em 2011 ter a certeza de que o marido estaria envolvido na questão dos refugiados, se ainda fosse vivo.
"Por outro lado, era um político muito nacional, estava muito preocupado com o Estado social e com o movimento operário. E não é que estes dois princípios sejam incompatíveis, mas há um certo conflito de interesses em manter estas duas políticas", diz o historiador, apontando como exemplo a discussão atual, proposta pelos empresários, sobre a redução de salários de modo a permitir a entrada de refugiados não qualificados no mercado de trabalho - uma medida a que os sindicatos se têm oposto. "Sendo ele um tipo tão esperto, eu teria interesse em ver como é que ele lidaria com isto."
Anna-Lena Lodenius também não sabe responder à pergunta. Mas a experiente jornalista, que dedicou grande parte dos seus 58 anos a investigar a extrema-direita no país e que colaborou várias vezes com o Centro OlofPalme, teve a oportunidade de ver o antigo primeiro-ministro de perto várias vezes e nunca esqueceu o impacto da figura. Estudante num liceu no centro de Estocolmo, Anna-Lena era colega de turma do filho mais velho do líder sueco, Joakim. Não esquece as várias vezes em que o primeiro-ministro foi à escola, sem guarda-costas, para almoçar com o filho. Ou a vez em que Palme, em carne e osso, ajudou a arranjar a sala para a festa de final de ano da turma, trazendo cadeiras e dispondo comida. Tal como não esquece o dia em que soube da notícia da sua morte, deixando a família de Anna colada à televisão, todos sentados em cima da sua cama no pequeno apartamento que partilhavam. "Era um tempo diferente", resume.
DA EXTREMA-DIREITA PARA O MAINSTREAM Hoje, o país discute como nunca a questão da imigração e do acolhimento de refugiados. Apesar do discurso anti-imigração não ser novo, nunca como agora criou raízes. "A diferença é que anteriormente as pessoas que levantavam estas questões eram desconsideradas e agora já não são. Hoje pensam que a situação justifica isto. E tudo aconteceu em muito pouco tempo. Coisas que seriam impossíveis há meses., subitamente, já não são impossíveis", resume a jornalista. A conduzir todo o discurso está o partido Democratas Suecos (DS), um partido populista anti-imigração, com origens no movimento neonazi, que procura emular uma estratégia semelhante à de partidos como a Frente Nacional francesa ou o Partido Popular dinamarquês, tentando captar o eleitorado de centro.
O seu crescimento é avassalador: "Eles duplicam o seu tamanho a cada eleição. No início tinham valores muito baixos, mas nas últimas eleições chegaram aos 12,9%." No verão, chegaram mesmo a superar a marca dos 25%, altura em que as sondagens o colocaram como o partido que reunia as maiores intenções de voto. Desde então, tem estagnado nos 20% e é a terceira maior força política da Suécia.
A jornalista conhece bem o partido, desde os tempos em que alguns membros faziam reuniões na cave do prédio onde vivia. Focada desde sempre em investigar a extrema-direita e a xenofobia (chegou a trabalhar com o famoso Stieg Larsson, jornalista e autor da trilogia "Millennium"), Anna-Lena não hesita em caracterizar o partido hoje como uma entidade que atrai de tudo um pouco, uma amálgama de posições mais ou menos extremadas conforme os membros e cujo comportamento começa a ser algo imprevisível. "O DS gosta de dizer que defende a classe trabalhadora, mas não o faz e quando chega ao Parlamento costuma votar mais à direita. No entanto, até isso tem mudado. Desde que o Governo é liderado pelos sociais-democratas, umas vezes vota mais à esquerda e outras mais à direita." Não por uma questão de mudança de ideologia, crê a jornalista, mas por estratégia eleitoral. Afinal de contas, o DS não esconde que quer chegar ao poder.
Foi envolto neste ambiente que o país se viu confrontado com episódios de violência contra migrantes. Em outubro ocorreu o ataque a uma escola em Trollhättan. Um mascarado esfaqueou um iraquiano, um somali e um sírio. Só durante esse mês, sete centros de acolhimento de refugiados foram incendiados - o que levou o Governo a deixar de divulgar as moradas dos locais de asilo. Segundo a Expo, a organização antirracismo fundada por Larsson, em 2015, registaram-se 50 ataques a centros de asilo, mais do que em todos os quatro anos anteriores. O DS demarca-se de tais atos, mas também não os condena. "Há uma sensação que alguns responsáveis [por estes atos] estão envolvidos no DS. Pelo menos votam nele, e acho que o partido está contente por alguém estar a fazer isto", analisa Lodenius.
Os episódios de violência ainda vão ocorrendo. Foi o caso de uma manifestação em janeiro, no centro de Estocolmo, onde testemunhas garantem que houve ataques contra migrantes. Em outubro, no pico da violência, o colunista dinamarquês Hans Davidsen-Nielsen do jornal "Politiken" deixava um aviso aos vizinhos: "Não esqueçamos a longa história de extremismo político e violência da Suécia, expressa também nos homicídios de um primeiro--ministro [OlofPalme] e de uma ministra dos Negócios Estrangeiros [Anna Lindh]. O clima do debate é mais cru na Dinamarca, mas quando a tampa rebenta na Suécia, tal acontece com muito mais força."
O impacto dessa violência deixa marcas e muitos suecos não conseguem deixar de pensar que a morte de Palme foi o início do fim da sociedade calma que conheciam. "Hoje em dia é muito diferente", diz Anna-Lena, para quem o homicídio de Anna Lindh, esfaqueada, em 2003, à saída de umas galerias comerciais por um homem com problemas mentais, foi ainda mais difícil de lidar do que o de Palme. Por um lado, era a segunda vez que tal acontecia. Por outro, Lindh era considerada o futuro do partido, uma líder em potência dos sociais-democratas. "De certa forma, foi ainda mais difícil. Éramos as duas mulheres, tínhamos a mesma idade, eu conhecia pessoas que a conheciam bem.", diz a jornalista baixando os olhos, já de si escondidos pela franja branca de tão loira.
Margot Wallström partilha o mesmo sentimento. A atual ministra dos Negócios Estrangeiros fazia parte do trio jovem e promissor composto por Lindh, Wallström e Mona Sahlin. As três sociais-democratas eram amigas e tinham a ambição de chegar ao topo do partido. Sahlin acabaria por fazê-lo, mas por pouco tempo. Wallström, depois de uma passagem pelos corredores de Bruxelas, lidera agora a diplomacia do país. A morte da amiga Lindh continua a causar impacto: "Retirou toda a alegria ao envolvimento político", admitiu a atual ministra recentemente ao "Financial Times". "Ela era compreensiva. Tenho tentado aprender com ela."
O LEGADO DOS SOCIAIS-DEMOCRATAS Muitos dizem que Wallström também tentou aprender com OlofPalme. Desde que está à frente da política internacional do país, a Suécia voltou a fazer manchetes pelas suas posições. O reconhecimento da Palestina como Estado ou as duras críticas à Arábia Saudita (que levaram à retirada por Riade do embaixador do país) recordaram a muitos a política internacional ativa de Palme, que não se acanhava de criticar outros Estados, independentemente do seu poder. O país também não esconde a ambição de conseguir um lugar no Conselho de Segurança das Nações Unidas. "Ela está a tentar ter a mesma postura moral da política externa do Palme, mas é muito mais difícil hoje. OlofPalme era um ótimo político, mas aquele também era um tempo mais vantajoso [para a Suécia atuar], devido à Guerra Fria e à descolonização", analisa Berggren.
Certo é que a postura de Palme no plano internacional lhe valeu muitos inimigos, dando origem a várias teorias da conspiração sobre a sua morte, que continua sem um culpado oficial. Os serviços secretos soviéticos e sul-africanos são alguns dos mencionados ainda hoje. Já na altura da sua morte havia essa noção. Só assim se explica que o taxista que transportava Boel Godner e os seus amigos, saídos de um bar naquela noite de sexta-feira, lhes tenha dado assim a notícia da morte do primeiro-ministro: "Eu sabia que eles iam acabar por apanhá-lo!" Godner traz na lapela o mesmo pin com uma rosa vermelha que Palme usou tantas vezes. É uma mulher com um ar cansado, que pára para suspirar e ganhar fôlego entre as frases. Não é para menos: Godner é a presidente da Câmara de Södertälje, a cidade onde fica a escola do miúdo de pestanas longas e do diretor Ljungqvist, e aquela onde os gastos municipais com subsídios sociais são os mais elevados de toda a Suécia.
"Já tentámos fazer muita coisa, mas é impossível", admite a autarca, referindo-se à segregação que se vive no subúrbio de Ronna e ao desemprego e pobreza que se lhe seguem. "Quando as pessoas vivem nas suas igrejas, a falar apenas a sua língua, é muito difícil." Para a social-democrata, à frente desta autarquia há quatro anos, a solução está num sistema de redistribuição pelo país. Godner pensa que os refugiados não deviam poder escolher o local onde ficam, para evitar a criação de guetos, como Ronna, e ser antes distribuídos por todo o país através de um sistema de quotas - à semelhança da discussão europeia sobre a distribuição por países. "Nós temos sido a Suécia da Suécia", diz a autarca. "Agora vai ser feita uma lei, em março, que obriga todas as cidades a receber alguns refugiados. É um passo, mas. Eu sei exatamente como se sente o Stefan Löfven quando diz 'toda a Europa devia ajudar!' E eu digo: 'Bem, podes começar no teu próprio país'." Alguns, como o diretor Ljungqvist, alegam que Boel também pode começar na sua própria cidade, distribuindo os alunos de Ronna por outras escolas de Södertälje, por exemplo. Outros, como a antiga responsável pela política de integração da cidade, Pakizeh Holvander, acham que o poder político local não tem feito o suficiente para combater a criminalidade organizada da cidade com medo de perder votos entre a comunidade assíria. "Isso para mim é prostituição", diz ao Expresso a ex-funcionária pública que se demitiu em agosto de 2015. O seu lugar continua por ocupar desde então.
A verdade é que os sociais-democratas necessitam de manter a sua influência em Södertälje, cada vez mais ameaçada pelo DS. O partido tem crescido na cidade, chegando a atingir níveis de 10% até em Ronna, muito por força dos sentimentos negativos que a comunidade cristã imigrante tem contra os muçulmanos. O mesmo se passa a nível nacional, com o DS a roubar cada vez mais eleitores aos sociais-democratas - na maioria homens de classe trabalhadora, com poucos estudos, que olham com desprezo para a aproximação dos sindicatos a temas como o feminismo e os direitos das minorias. Sentem que ninguém representa os seus interesses e viram-se para os extremos.
Atualmente, o DS estabilizou pela primeira vez nas sondagens, fruto da discussão nacional acerca da imigração. Quando os partidos do poder, como os sociais-democratas e os moderados (centro-direita), começaram a discutir temas como o fecho de fronteiras e os exames médicos a menores para provar a sua idade, o partido perdeu alguma da sua influência. Mas, como relembra Anna-Lena Lodenius, a estratégia dos partidos do centro copiarem o discurso dos radicais não costuma dar grandes frutos.
Henrik Berggren, que se define como um "social-democrata frustrado" também reflete sobre isto. Os tempos de OlofPalme, em que o partido social--democrata dominava a política sueca, parecem estar a chegar ao fim. As últimas sondagens dão-lhe pouco mais de 23%, longe dos valores acima dos 40% que tinha nas décadas de 60 e 70. Segundo um analista da empresa de sondagens Sifo ouvido pelo Expresso, é o culminar de uma tendência que se tem vindo a sentir nos últimos anos, com um partido social-democrata que não agrada ao eleitorado mais jovem e urbano - e também a muitos trabalhadores.
"Há por aí gente muito perigosa a espalhar ideias de extrema-direita, mas como fazemos para atrair os que não deviam estar aí? As pessoas que não são racistas ou reacionárias, mas que estão assustadas e confusas... Como é que as trazemos de volta?", questiona-se Berggren, angustiado. A social-democracia de Palme, da igualdade de oportunidades e da valorização da classe trabalhadora - durante tanto tempo o cânone partilhado pela maioria dos suecos como a visão de como deve ser uma sociedade -, está hoje em risco na Suécia. Foi posta a nu pela crise dos refugiados que abala a Europa.
"Essa área foi tomada pelo DS, o que para mim é um problema", declara o historiador com amargura, fechando as mãos sobre a cabeça. E remata, sem grande esperança: "Mesmo que OlofPalme ressuscitasse e abanasse a sua varinha mágica, não conseguiria resolver isto.