Miguel Duarte. "Quando vejo uma pessoa a morrer afogada não lhe pergunto se tem passaporte. Tiro-a da água"
Ajudou a salvar milhares de vidas e pode enfrentar 20 anos de prisão. Ao Observador, Miguel conta o que o levou a ir para o Mediterrâneo e o que pensa das políticas da UE. Não se arrepende de nada. Cátia Bruno Observador, 17 de junho 2019
Vinte anos. Vinte. É esse o número de anos que Miguel Duarte pode vir a passar numa prisão italiana se a acusação de que é alvo pela procuradoria de Trapani (Sicília) avançar mesmo para tribunal — e se este considerar que o jovem português, de 26 anos, é culpado. O crime? Apoio à imigração ilegal, por ter ajudado a resgatar milhares de migrantes no Mediterrâneo. A sua ação com a ONG alemã Jugend Rettet, a bordo do navio Iuventa, ajudou a salvar a vida a mais de 14 mil pessoas que tinham como destino quase certo morrerem afogadas.
Miguel era um jovem estudante de 24 anos quando decidiu que tinha de fazer alguma coisa, ao assistir às notícias que mostravam milhares de refugiados a tentar entrar na Europa, com muitos a morrer pelo caminho. Fez-se ao mar, juntamente com outros nove membros da tripulação. Aquilo que viu deixou-lhe marcas, sobretudo ao recordar, impotente, as várias pessoas que o Iuventa não conseguiu salvar: "Aumentou muito em mim a revolta que sentia", confessa ao Observador, num telefonema dez dias depois de ter sido iniciada a campanha de crowdfunding da ONG Humans Before Borders, que tenta reunir fundos para apoiar a defesa de Miguel e dos restantes ativistas acusados.
"Estas pessoas não vêm por escolha própria. Uma mãe nunca deveria ter de pôr os seus filhos num barco em mar alto, com tão poucas probabilidades de sobreviver", diz o aluno de doutoramento em Matemática no Instituto Superior Técnico de Lisboa. A frase faz parte do vídeo que acompanha a campanha que a Humans Before Borders criou para ajudar a recolher donativos que apoiem a estratégia de defesa de Miguel. Propuseram-se a recolher cinco mil euros — já vão nos 29 mil. "Aquece o coração", reconhece o jovem, que confessa ter sido apanhado de surpresa por tanto apoio. (Leia o resto do artigo no site do Observador)