Matthew Goodwin: “Se quiserem ver o populismo em esteroides, é só ignorarem referendos como o do Brexit”
É professor universitário e estuda a vaga que criou Trump e o Brexit, a que chama "nacional-populismo". Goodwin diz que o movimento veio para ficar e que ignorar a vontade do povo só o tornaria pior.
Cátia Bruno Observador, 29 de outubro 2019
“O que motiva de facto o populismo? Quais são as principais tendências? Onde é que as pessoas erram? O que é que aí vem?” É assim que Matthew Goodwin apresenta o seu mais recente livro, Populismo: A Revolta Contra a Democracia Liberal (ed. Desassossego), escrito em parceria com Roger Eatwell, no Twitter. A rede social é um dos locais por onde este académico se move, a par dos jornais — tanto escreve para o respeitado Financial Times como para o tabloide Daily Mail — e das televisões, já que não são raras as vezes em que é convidado como comentador para o Newsnight da BBC.
Mas se Matthew Goodwin é uma presença mediática, é sobretudo por duas razões. A primeira é porque é um académico respeitado: professor de Política na Universidade de Kent, tem um amplo currículo como investigador de movimentos populistas, eurocéticos e extremistas, sobretudo no Reino Unido. Investigou a fundo o UKIP, com vários estudos publicados sobre o partido eurocético britânico, mas também a extrema-direita, tendo analisado o British National Party. Mais recentemente, tem-se focado no Brexit e em tentar compreender a origem do resultado do referendo. E aqui não tem dúvidas sobre a situação atual, como demonstra o diagnóstico que faz ao Observador, numa rápida entrevista por telefone, dias antes do lançamento do seu novo livro em Portugal: Boris Johnson captou o voto mais à direita porque, quando surgiu como líder, “soava como Nigel Farage e estava a adotar muitas das coisas que Farage já tinha dito antes” e o Labour de Jeremy Corbyn “está acabado”.
É a procura pela origem do sucesso de figuras como Farage que nos leva à segunda razão que explica o mediatismo de Goodwin: o académico é conhecido por fazer críticas contundentes aos partidos tradicionais e aos media, que acusa de não estarem a ser capazes de lidar convenientemente com a subida do populismo por toda a Europa e nos Estados Unidos. “Há palavras na política que já não utilizamos, mas que são muito importantes: dignidade, reconhecimento, respeito. Muitos dos eleitores que trocaram o mainstream pelo populismo sentem que essas coisas já não existem. E (…) ninguém parece preocupar-se com isso ou querer fazer algo para alterar isso”, diz o académico.