Kim Jong-un diz que "melhor povo do mundo" está a salvo da pandemia. Especialistas admitem que surto possa já estar descontrolado
Coreia do Norte diz ter 0 casos, mas especialistas acham improvável. Sistema de saúde é frágil e fronteiras fechadas afetarão a economia. Pelo meio, Kim Jong-un — sem máscara — faz testes de mísseis.
Cátia Bruno Observador, 2 de abril 2019
O líder aparece de gabardine preta. À sua frente estão dezenas de militares e de homens que trabalham na construção civil, identificados pelos capacetes laranja e cor-de-rosa, em vez do amarelo habitual. “No momento em que o Líder Supremo Kim Jong-un chegou ao local da cerimónia inovadora, todos os construtores largaram ruidosas ovações em sua honra, ele que tem feito esforços incansáveis, com um amor ardente pelo povo, para abrir uma larga avenida por onde siga um avanço novo do socialismo coreano”, descreve a agência de notícias estatal norte-coreana, a KCNA.
Perante a pequena multidão, Kim Jong-un anuncia que irá ali começar a construção do novo Hospital Geral de Pyongyang, com abertura prevista para outubro de 2020, para servir a saúde e o bem-estar do “melhor povo do mundo”, como é habitual os líderes da Coreia do Norte referirem-se à população do país. De seguida, com uma pá, faz o primeiro buraco e atira a areia para uma cova escavada para o efeito.
Em tempos dito normais, seria apenas mais uma cerimónia ao estilo da do regime de Pyongyang, com vivas ao Grande Líder e entusiasmo em torno de uma obra pública. Mas, a 17 de março de 2020, o anúncio da construção de um hospital não acontece por acaso. O mundo está paralisado devido à pandemia de Covid-19, que já matou milhares. Na Coreia do Norte, oficialmente, não há qualquer caso registado — mas esse é um dado do qual duvidam todos os especialistas ouvidos pelo Observador.