A incrível história de sobrevivência dos Kleinmann — e do filho que seguiu o pai para Auschwitz
Uma família desmembrada pelo Holocausto e um filho que não abandona o pai, nem sequer quando o enviam para Auschwitz. Jeremy Dronfield conta a história — para que o mundo continue sem esquecer.
Cátia Bruno Observador, 27 janeiro 2019
"— Ali! Ela é um deles!
Os rostos viraram-se, ela ouviu a palavra judia e mãos agarraram-lhe os braços, puxando-a para o meio da multidão. Ela viu a camisa castanha de Vickerl e a braçadeira com a suástica. Nesse momento, estava entalada entre os corpos e no meio de rostos maliciosos e gozões. Meia dúzia de homens e mulheres estavam de joelhos e mãos no chão, com escovas e baldes, a esfregar o pavimento — todos judeus, todos bem vestidos. Uma mulher desnorteada agarrava com força o chapéu e as luvas numa das mãos e a escova na outra, com o seu casaco imaculado a rojar pela calçada molhada.
— De joelhos.
Colocaram-lhe uma escova na mão e foi empurrada para o chão. Vickerl apontou para as cruzes austríacas e os slogans "Diz sim!".
— Faz desaparecer a tua propaganda nojenta, judia."
A Anschluss [anexação] tinha acontecido apenas há alguns dias. Edith, a filha mais velha da família Kleinmann, seguia a pé pelas ruas de Viena quando se apercebeu de algum rebuliço junto a um posto da polícia, na esquina da Sciffamstgasse com a Leopoldsgasse. Ao longe, reconheceu um antigo colega de escola, Vickerl, e aproximou-se, acenando-lhe."