Andrew Gimson, biógrafo de Johnson. "As pessoas sentem que podiam tomar um copo com Boris no bar"
Andrew Gimson escreveu a biografia definitiva sobre Boris Johnson, que considera ser um político diferente dos outros. Numa conversa em detalhe com o Observador, o biógrafo explica porquê.
Cátia Bruno Observador, 13 de dezembro 2019
Um homem que arrisca, que tem “sentido do ridículo” e cuja estratégia só poderia funcionar depois do falhanço de Theresa May. É assim que Andrew Gimson explica o sucesso de Boris Johnson, o homem que o estudou de perto para a sua biografia Boris: The Rise of Boris Johnson (sem edição em português), numa entrevista dada ao Observador, um dia antes das eleições decisivas que viriam a dar uma maioria esmagadora ao primeiro-ministro em funções.
Uma antecipação que não foi problema para Gimson, que recebeu o Observador em sua casa, no bairro de Gospel Oak. Apesar de ter abordado outros possíveis cenários, como o de um Parlamento sem maioria clara, a verdade é que a sua convicção era a de que Boris Johnson ia vencer e por muito. Por causa do Brexit, sim, mas não só — porque, considera o escritor e antigo jornalista do Telegraph e da Spectator, a personalidade do líder dos conservadores foi essencial para esta vitória. “Se ele acha que alguém está a dizer algo absurdo, faz uma piada sobre isso ou goza com a pessoa. Portanto acaba por parecer uma figura muito anti-sistema, porque o sistema tem tendência para ser muito pomposo e solene”, afirma o biógrafo, que lhe elogia igualmente a ousadia de ter arriscado ao posicionar-se do lado do Leave no referendo para o Brexit e depois ao arriscar para conseguir um acordo e para forçar eleições antecipadas.
Não que o problema esteja resolvido — a negociação que aí vem para um futuro acordo comercial com os europeus vai ser, afirma, “complicada”. “Mas eu, como muitos outros, acho cansativo quando os especialistas nos dizem que ‘vai ser impossível’. Não é impossível se ambas as partes quiserem um acordo”, aponta Gimson. “O público em geral está cansado acha é que devem ser os responsáveis políticos a tratar desses detalhes.”