Acumulam comida e estão "aterrorizados": os britânicos que queriam ficar na UE
Especialista em desastres diz que o país só armazena comida para 24 horas. Perante a falta de acordo, empresas como a de John acumulam stock e cidadãos como Jo enchem a despensa. Reportagem em Londres.
Cátia Bruno Observador, 29 de março 2019 Joanne Elgarf nunca imaginou que o Leave ("Sair") iria ser a opção mais votada no referendo de 23 de junho de 2016. "Estava deitada na cama quando vi o resultado. Fiquei gelada", conta, sobre aquela noite de verão. "Tinha a certeza absoluta que o Remain ("Ficar") ia ganhar. Lembro-me que via imensas bandeiras de Inglaterra por todo o lado, mas assumi sempre que era por causa do Euro 2016, que era por causa do futebol. A verdade é que eu vivia numa bolha Remain."
À altura, Jo (nome pelo qual costuma ser tratada) não poderia imaginar que, dois anos depois, acabaria por se tornar numa ativista que dá entrevistas a dezenas de media, inclusivamente estrangeiros. Mas eis que, mais de dois anos depois, ali está ela sentada a conversar com mais uma jornalista, depois de ter dado entrevistas a jornais de países tão distantes como o Canadá ou o Japão. Em causa está o facto de ser uma das organizadoras do grupo de Facebook 48% Preppers, que conta com mais de 10 mil membros, e que reúne britânicos preocupados com a possibilidade de um no deal, que trocam impressões sobre como se preparar para o pior.
"Neste momento, não interessa quem votou Remain ou Leave, não somos um grupo político. Estamos focados é no presente e, no presente, ninguém sabe o que se passa", explica ao Observador. Sentada num café do seu bairro no sul de Londres, no subúrbio de Worcester Park, pára um pouco para refletir sobre o momento atual: "Ainda agora tivemos os estúpidos dos votos indicativos. Isto devia ter acontecido há meses!, diz.