A vítima de Pedrógão que não pode dar o nome ao filho Carlos, um dos feridos mais graves de Pedrógão, estava internado em Espanha quando o filho nasceu. Ainda não o viu, porque não havia dinheiro para a viagem. E o bebé não pode ter o nome do pai.
Cátia Bruno Observador, 25 agosto 2017 Em Pedrógão Grande e Castanheira de Pêra
Patrícia Santos estava a ver televisão quando o fogo começou. Era sábado e Patrícia, 29 anos, estava em casa do irmão e da cunhada, lugar onde tinha vivido nos últimos meses. Em breve, contava mudar-se para a sua nova casa, também ali em Pedrógão Grande, com o filho de um ano e meio e o companheiro Carlos, de 43. Faltava apenas a eletricidade e poderiam depois instalar-se de vez para receber o novo membro da família: o pequeno Pedro, cujo parto estava previsto para dali a um mês.
Na tarde do fogo, Carlos estava fora — tinha saído com o irmão de Patrícia e um empregado deste, oferecendo-se para ajudar no negócio, acartando lenha. Era o seu contributo para compensar a família por lhes ter dado guarida nos últimos meses. Patrícia, grávida de oito meses, esperava e preocupava-se com os três homens, que andavam algures pelos montes ali próximos: "A última vez que tentei entrar em contacto com ele, estava a ver da janela as chamas perto do IC8. Foi aí que percebi que algo estava errado", conta ao Observador, dois meses depois do incêndio que destruiu grande parte dos concelhos de Pedrógão Grande, Castanheira de Pêra e Figueiró dos Vinhos.
Eram nove da noite quando Patrícia soube da notícia pela cunhada: Carlos estava gravemente ferido, depois de ter sido apanhado pelas chamas numa estrada secundária perto do IC8, que ligava as aldeias de Mosteiro e Troviscais. Quando a notícia chegou, Carlos já estava numa ambulância em Figueiró dos Vinhos e iria ser transferido para o Hospital de Coimbra. Nesse momento, nem mesmo a barriga de oito meses de Patrícia a impedia de arrancar para Coimbra — mas as estradas foram cortadas.