A “máquina perfeita” do Kremlin para anular os adversários de Putin Os opositores de Putin nas eleições deste domingo foram presos, agredidos, cercados pela burocracia ou ignorados pelos media. Como se faz campanha quando já se sabe o vencedor? E para quê?
Cátia Bruno Observador, 17 março 2018
"Queimaram o carro a um dos nossos voluntários e algumas pessoas foram espancadas. O ambiente é este." Vitali Shkliarov resume assim ao Observador as consequências mais negras de ter aceitado gerir a campanha de uma candidata independente às eleições presidenciais deste domingo, na Rússia — Ksenia Sobchak, conhecida como a "Paris Hilton russa", filha de um antigo companheiro de armas de Vladimir Putin que se tornou política da oposição.
O pedigree de Sobchak de nada lhe vale quando toca ao processo de candidatura, assegura Vitali. "Enfrentamos um exército de burocratas, cujo trabalho é dificultar-nos a vida", resume o gestor de campanha que ganhou experiência nos EUA, onde foi voluntário nas campanhas de Barack Obama e Bernie Sanders.
O cenário na Rússia é bem diferente daquele que encontrou na América, assegura. Quando um impresso não está bem preenchido, por exemplo, ninguém avisa o candidato do erro, sendo o processo simplesmente chumbado. Para recolher as 300 mil assinaturas necessárias, vindas de todas as partes da Rússia, um candidato tem de abordar pessoas e conseguir convencer os signatários a cederem-lhe todos os seus dados pessoais, como o número de Segurança Social e uma cópia do passaporte — mesmo que estejam -40º na rua. E, ao todo, um candidato sem acesso à televisão estatal tem apenas cinco semanas para fazer campanha eleitoral. "O Kremlin criou a máquina perfeita que não deixa que mais ninguém entre nela", resume Vitali.