Ambicioso e provocador, colecionador de arte e homem de negócios — e "oligarca" assumido. Quem era o congolês Sindika Dokolo, marido de Isabel dos Santos, que morreu aos 48 anos num acidente no Dubai.
Cátia Bruno Observador, 29 de outubro 2020
Não era habitual Sindika Dokolo falar sobre José Eduardo dos Santos. Sabe-se que o antigo Presidente angolano aprecia a discrição e o recato e, talvez por isso, o marido de Isabel dos Santos falava pouco do sogro. Quando abriu uma exceção, revelou mais do que admiração: “Conheci a minha mulher na altura em que o meu pai morreu. Essa perda foi uma ferida muito profunda para mim. Na sequência disso, o meu sogro tornou-se o meu pai espiritual. O meu pai de substituição.”
A entrada de Dokolo no clã Dos Santos marcou o seu percurso para sempre — até esta quinta-feira, quando morreu, aos 48 anos, num acidente no Dubai. Sindika Dokolo fazia mergulho quando sofreu uma embolia.
Não fosse a ligação com a família do antigo Presidente angolano e Sindika Dokolo muito provavelmente teria evitado sempre os holofotes. Conhecido colecionador de arte, não há especialista em arte africana que não elogie a sua coleção e o trabalho que fez com ela — mas a verdade é que essa fama estava confinada ao nicho do mercado da arte. Era figura ativa na sociedade civil do seu país de origem, a República Democrática do Congo (antigo Zaire), mas apenas desde meados de 2017, quando fundou um movimento contra o Presidente Joseph Kabila. Tinha fortuna de família, herdada de Kinshasa, porém pouco se sabe sobre as suas origens. Era “inteligente”, “educado”, “simpático”, dizem todas as fontes ouvidas pelo Observador que já se cruzaram com Sindika Dokolo. Mas era também “um mistério”.